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Quando uma pessoa não quer parar de falar é porque, de fato, o bate-papo não terminou: ela ainda tem coisas a dizer. Entretanto, em algum momento, o escutador pode precisar encerrar a conversa, mas sentir que seu interlocutor está longe do fim, pois tem ainda muito a dizer. O que fazer nesse tipo de situação, de modo que seu interlocutor não veja isso como falta de interesse? Há que se ter sensibilidade para conduzir uma conversa ao fim. Neste caso, o escutador deve expor que, naquele momento, infelizmente, terá que encerrar o bate-papo, mas que sente que há muito mais a ser dito e, por isso, sugere novo encontro para continuarem.54
54 Por que falam? Acho que porque sentem que estão sendo ouvidas.
(Eduardo Coutinho)
Muitos são os motivos que levam o escutador a precisar encerrar um encontro: seja porque a conversa rendeu muito mais do que se esperava e seu tempo disponível acabou ou mesmo porque está muito cansado. Essas são questões que, naturalmente, podem acontecer.
O importante é o escutador não tentar “forçar uma barra”, permanecendo na conversa mesmo quando já está muito cansado ou aflito com o horário. Por isso, é aconselhável marcar uma nova conversa, na qual o escutador possa estar por inteiro junto ao seu interlocutor.
Por outro lado, é também importante lembrar que, na escuta de memórias, não há muito controle sobre o tempo em que se dará o trabalho, pois vai depender de quem está narrando: o tempo da memória nem sempre é o tempo do relógio. Às vezes, voltar ao passado e recontar as histórias no presente pode não ser fácil, pois exige esforço, concentração, disponibilidade e coragem. Deste modo, faz parte do trabalho do escutador respeitar o tempo do outro, sem afobá-lo ou apressá-lo. Assim, ao marcar uma conversa, é prudente ter disponível um tempo razoável para realizá-la. Mas é claro que há conversas mais curtas (o que não significa que sejam menos ricas) e isso vai depender de cada um.
Após contar suas histórias, algumas pessoas sinalizam que já narraram o suficiente para aquele encontro ou que se sentem satisfeitas com o que puderam compartilhar. Às vezes, perguntam para o escutador se há mais alguma questão a ser respondida, outras vezes mencionam certo cansaço. Assim, o escutador poderá ir finalizando a conversa, sempre deixando registrado que, se a pessoa quiser continuar num outro momento, se lembrar de alguma história importante que deva ser registrada, estará disponível para uma continuar a conversa em outro momento.
Ao final de um bate-papo, o escutador, junto ao seu interlocutor, irá avaliar se os relatos foram suficientes para esgotar os principais pontos da história ou se há ainda memórias importantes a serem contadas. Neste último caso, poderá sugerir uma nova conversa. Se a pessoa aceitar, esse próximo encontro terá como objetivo aprofundar algumas questões surgidas no bate-papo anterior ou mesmo abrir espaço para o surgimento de novas histórias.
Ter mais de um contato com o interlocutor poderá promover certa proximidade entre quem escuta e quem narra. Além disso, dependendo do momento em que ocorre a conversa, ele estará mais ou menos aberto para o diálogo. O lugar onde se realiza ou as pessoas presentes podem tanto inibir quanto deixar o narrador mais à vontade. Assim, com a perspectiva de mais de um encontro, é possível que haja uma nova oportunidade para aqueles que, num primeiro contato, não estiveram disponíveis o suficiente para compartilhar suas histórias.
Caso o escutador opte por realizar mais de um encontro com seu interlocutor, alguns aspectos devem ser analisados, pois deverá se preparar para o próximo bate-papo de forma diferente. Se a conversa tiver sido gravada ou registrada em vídeo, é importante escutar ou assistir à gravação, de modo que possa observar quais histórias merecem ser aprofundadas ou mesmo para lembrar quais perguntas o escutador gostaria de ter feito, mas não fez. A ideia é estar com a história fresca na cabeça para, se houver espaço, dar continuidade ou aprofundar algum ponto.
Para começar um novo bate-papo com a mesma pessoa, é importante fazer uma conexão com o encontro passado, ajudando a pessoa a se lembrar do que foi dito. O escutador pode, também, perguntar se, entre o encontro anterior e o atual, a pessoa lembrou-se de alguma história que gostaria de compartilhar.
Numa nova conversa, o escutador pode aproveitar para perguntar como a pessoa se sentiu no bate-papo anterior, o que mais lhe tocou, se foi importante revisitar alguns lugares de sua memória. É interessante saber o que moveu nosso interlocutor a compartilhar sua história e como se sentiu ao entrar em contato com seu passado. Quando perguntada sobre como foi dar o primeiro depoimento, Selma nos disse o seguinte:
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