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Saber os motivos que levam as pessoas num bate-papo a contar suas vidas é tão importante quanto ouvir suas histórias. Quando perguntada sobre o motivo de ter compartilhado suas memórias, dona Dercy respondeu o seguinte:
Danilo (NIMESC): O que é que fez o desejo da senhora falar aquele dia na quadra?
Dercy (escutadora): O desejo? Não porque, ela perguntou... Foi você que perguntou? Vocês duas, né? Perguntaram e eu não quis esconder, e contei. Eu não quis esconder, eu quis falar. Ela perguntou: “– A senhora é nascida aqui em cima, quantos anos aqui?”. E falei que eu era nascida e criada aqui. Aí, me deu aquela vontade de falar, né? Porque a gente não pode esconder nada que a gente sente, apesar que eu não conto pra todo mundo como é que foi, como foi a minha infância aqui no morro, como é que era pra pegar água, como era pra pegar um gás, como é que era pra chegar lá embaixo com o sapato limpo. Eu não conto, porque tem gente que censura, censura, a gente fica até com medo de chegar perto, isso, aquilo. Você não é pobre, você é paupérrima. Então, não conto. Aí, naquele dia, me deu vontade de contar, porque é o pessoal da comunidade, da onde eu convivo, tô sempre aqui e tudo. Aí, me deu aquela vontade de contar. Aí, eu peguei e contei.
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