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Em primeiro lugar, é importante que verifique junto ao interlocutor se esse permite ou não a captação de som e imagem. Algumas pessoas sentem-se inseguras ou envergonhadas ao serem gravadas no vídeo e isso pode ser um problema no momento da escuta. Nesse caso, é melhor abandonar a ideia e discutir outras formas de registro, como a utilização do gravador de voz, por exemplo.
Se a pessoa não se opuser ao uso da câmera de vídeo, o escutador irá articular uma equipe para ajudá-lo. Alguém deve saber manipular a câmera (que pode ser um profissional ou outro escutador que tenha habilidade para isso) e a conversa só poderá começar depois que a câmera estiver ligada e todos a postos. É preciso, ainda, que se pense num ambiente que tenha boa luminosidade (ou, então, que se use iluminação artificial) e com pouco barulho (ou, então, que se use microfone de lapela, se for possível). Nesse tipo de registro, todos os detalhes técnicos têm que ser pensados com cautela, sob o risco de a gravação ficar sem qualidade e o material ser inutilizado.
Antes de decidir pela forma de registro, o escutador deve pensar sobre o modo como deseja apresentar a história: transcrição da fala num banner, exposição de fotografias junto às histórias ou filme documentário, por exemplo. Essa escolha encaminhará a viabilidade e a necessidade de se utilizar um recurso de registro ou outro. Além disso, o escutador e seu interlocutor devem estar à vontade com esses instrumentos de registro, para que não se comprometa o foco do trabalho, que é a escuta de memórias.
Se houver o registro de imagem, o escutador deverá lançar mão de um documento onde quem narra declara que aceita participar da conversa e autoriza o modo como foi registrado o encontro e o uso que será dado à história. Este documento pode ser construído pelo escutador ou pode-se utilizar algum modelo pronto (verificar sugestão de autorização no Anexo). Caso a conversa não inclua a imagem da pessoa, o escutador deverá construir outro documento, no qual, ao assinar, o participante declara que aceita participar do bate-papo e permite a divulgação de sua história. O documento é necessário, pois formaliza o desejo de nosso interlocutor, protegendo sua história e imagem de usos indevidos. Contudo, o mais importante é apresentar e discutir, durante todo o processo, cada detalhe do trabalho, de modo que aquele que narra seja incluído ativamente nas decisões a serem tomadas.
Vamos, agora, conhecer parte da história de Rosa, mais conhecida como Nininha:
Rosa (Nininha): Porque as coisas que a gente tem pra falar era coisa triste, então, deixa pra lá, né?
Rita (escutadora): Deixar as tristes de lado e ficar só as coisas boas.
Comadre de Rosa: Minha comadre, eu gosto dela...
Rosa (Nininha): Como eu falei, pensei nos outros. E ali era eu e o meu irmão que faleceu, esse que tem quatro anos. Era nós dois ali. Tem a minha irmã mais velha, mas nunca morou com a gente, entendeu? Mas ela tinha a vida dela, entendeu?
Comadre de Rosa: O pai dela teve um derrame, na idade, que a gente sabe, setenta anos, sessenta.
Rosa (Nininha): Setenta e oito que ele teve.
Comadre de Rosa: Tem certeza que ele vai ter um problema, né? Mas o irmão dela se internou na época com problemas de rins... Eu visitava o irmão dela e ela visitava o meu filho. Então, do nada, o Juarez foi embora. A comadre não aceitou isso, foi o que mais “coisou” ela. Era um irmão que era pra tudo com ela. Tirou os filhos dela, ajudou a criar.
Nininha preferiu contar sua história na casa de sua comadre e vizinha. Durante o relato, sua comadre passou a participar da conversa com seu consentimento, contando como participou da vida de Nininha e trazendo mais elementos para a história.
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