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Este é um guia para a formação de novos potenciais escutadores e escutadoras de memórias, ou seja, aqueles que se dedicam a escutar as histórias de vida de outras pessoas. Você poderá ser um facilitador deste processo, um formador que conduzirá os encontros e as reflexões sobre o trabalho de escuta. Para tanto, deverá se deixar seduzir por esta ideia e interagir conosco. Se o seu desejo coincidir com o nosso interesse de estudar e aprender sobre os desafios da memória na constituição da identidade de um grupo social, nossos objetivos serão alcançados.

Neste guia, você irá interagir com temas importantes, explorados com a intenção de sensibilizar a escuta de memória entre pessoas comuns que guardam verdadeiros tesouros, ensinamentos de modos de vida. Os conteúdos deste guia estão estruturados a partir dos seguintes eixos temáticos:

Em cada capítulo você vai também encontrar textos em destaque para leitura, reflexão e debate com seus parceiros. A cor azul será utilizada para destacar as citações de autores que nos ajudam a compreender o que é memória.

A cor laranja será sempre utilizada para indicar informações adicionais sobre um determinado tema em pauta.

Os textos em destaque servem para ampliar seus conhecimentos sobre a importância das histórias de vida para compor a história coletiva de uma dada comunidade.

01 Se alguém colhe um grande ramalhete de narrativas orais, tem pouca coisa nas mãos. Uma história de vida não é feita para ser arquivada ou guardada numa gaveta como coisa, mas existe para transformar a cidade onde ela floresceu. A pedra de toque é a leitura crítica, a interpretação fiel, a busca do significado que transcende aquela biografia: é o nosso trabalho, e muito belo seria dizer, a nossa luta.
(Ecléa Bosi)

Contar e ouvir histórias são maneiras de existir na lembrança, compartilhando experiências de vida através das gerações. Não cremos que as pessoas algum dia deixarão de contar e ouvir histórias, pois nosso destino é viver os acontecimentos e depois transformá-los em narrativas, criar palavras e imagens, para que as histórias possam ser contadas e recontadas, agora e sempre, através dos tempos. Somos, ao mesmo tempo, personagens e criadores das histórias, além de testemunhas de uma época. Contar e recontar as nossas histórias é uma forma de conciliarmos a experiência pessoal com o desejo de permanecer como parte de um grupo, em um dado tempo/espaço social, e de uma história maior01.

O que significa narrar as histórias de vida de um determinado grupo social, para transformar o lugar onde se habita em um espaço de memória, cultura e experiência?

02 Para saber mais sobre o MUF consulte o E-book em anexo e acesse o seguinte endereço eletrônico: www.museudefavela.org

Este é o desafio do Museu de Favela - MUF, uma organização não governamental privada e de caráter comunitário. A proposta do MUF é criar estratégias de valorização da memória social e coletiva das favelas do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho, inventariando as memórias de seus moradores. Pretende, assim, consolidar um território que vai se transformando, pouco a pouco, em um museu “a céu aberto”, cujo conteúdo a ser divulgado é a própria favela e sua cultura, através dos relatos de seus habitantes.02

O que é a favela para cada um de seus habitantes? O que cada história revela sobre as transformações da favela ao longo do tempo? Quais são os personagens que marcaram e ainda marcam a vida da favela? Quais fatos ou acontecimentos permanecem nas lembranças dos seus habitantes? Quais são as memórias contadas das favelas do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho?

03 As histórias de vida estão povoadas de coisas perdidas que se daria tudo para encontrar; elas sustentam nossa identidade, perdê-las é perder um pedaço da alma.
(Ecléa Bosi)

Trata-se de recuperar acontecimentos do cotidiano, transformando-os em histórias que entrelaçam as pessoas e a favela. Histórias que, ao serem contadas, acabam por revelar a alma do lugar e a de seus moradores. Vidas comuns que, ao relatarem experiências, revelam afetos e constituem o imaginário coletivo de uma determinada época/ lugar. A ideia é trazer à tona memórias esquecidas de encontros e desencontros; amores e desilusões; mentiras e verdades; medos e destemores; vingança e perdão... Tudo que, no ato de narrar, transforma tanto quem relata como quem escuta.03

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