2

04 Saiba mais sobre o Prêmio Mulheres Guerreiras

“Você moradora do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, candidata a mulher guerreira 2013. Nós do colegiado de diretores e colaboradores do Museu de Favela agradecemos pela presença de todos em nosso terraço cultural. Viemos parabenizá-las por sua bela e fantástica história de vida. Sua luta, força e garra fazem de vocês mulheres de grande valor. Nossa! Quantas coisas vocês viveram! Como se sacrificaram para sustentar seus filhos! Quantas decepções, perdas irreparáveis tiveram que suportar e levantar no outro dia para trabalhar como se nada tivesse acontecido? Quantas oportunidades surgiram para vocês estudarem, viajarem, ganharem mais, no entanto, preferiram abrir mão para não ter que se afastar da família? É você é uma mãezona, esposa dedicada e uma trabalhadora incansável, por isso merece estar aqui! Esses sentimentos nobres só existem naquelas que lutam e enfrentam com dignidade as dificuldades e obstáculos que surgem pela frente. Não se deixa abater! Ergue a cabeça e continua sua trajetória... Vocês são acervo vivo do MUF, com seus saberes e fazeres. Todas as homenagens ainda são poucas diante do muito que representam. Para a organização Museu de Favela, todas, todas sem exceção, serão sempre guerreiras e nossas eternas guerreiras mulheres. Mas um ano do prêmio mulheres guerreiras 2013 realizado e sentido de dever cumprido deste museu que só existe por causa de vocês!”.

(Rita de Cássia Santos – diretora social e curadora de memórias)

A luta do MUF se traduz no trabalho de incentivar modos de escuta entre pessoas, apoiando e fortalecendo o desejo de memória e estimulando os moradores desta localidade a continuar fazendo história para as gerações futuras. Ou seja, mostrar, por meio dos relatos dos habitantes do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho, a experiência do cotidiano, entrelaçando passado, presente e futuro e transformando as pessoas em personagens e em verdadeiros contadores de histórias, capazes de revelar, através de palavras e imagens, a alma da favela. Participe deste grande desafio e faça parte de um grupo de resistência cujo lema é: NUNCA ESQUECER DE LEMBRAR!

1.1 Conhecendo a história da parceria MUF – NIMESC/PUC-Rio

Com o intuito de apoiar o desejo de memória dos habitantes do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho, surge, em 2011, uma parceria do MUF com o Núcleo Interdisciplinar de Memória, Subjetividade e Cultura - NIMESC. Este núcleo de estudos, pesquisa e extensão integra os departamentos de Psicologia e Artes & Design da PUC-Rio. O objetivo desta parceria é apoiar a formação de recursos humanos e desenvolver estratégias de ação para a valorização da diversidade cultural das histórias de vida dos habitantes destas favelas.

A parceria MUF/NIMESC surgiu a partir de ação conjunta na realização do Prêmio Mulheres Guerreiras.04 Esta é uma atividade do calendário de eventos do Museu de Favela, que, a cada ano, homenageia as mulheres que possuem um valor social para a favela, mulheres que têm histórias de luta e superação, verdadeiras guardiãs das memórias do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho. Os depoimentos que compõem este material pertencem às mulheres guerreiras de 2013.

1.2 Como surgiu o Núcleo de Formação de Escutadoras de Memória?

05 Não há uma palavra que seja a primeira ou a última, e não há limites para o contexto dialógico (este se perde num passado ilimitado e num futuro ilimitado). Mesmo os sentidos passados, aqueles que nasceram do diálogo com os séculos passados, nunca estarão estabilizados (encerrados, acabados de uma vez por todas). Sempre se modificarão (renovando-se) no desenrolar do diálogo subsequente, futuro. Em cada um dos pontos do diálogo que se desenrola, existe uma multiplicidade inumerável, ilimitada de sentidos esquecidos, porém, num determinado ponto, do desenrolar do diálogo, ao sabor de uma evolução, eles serão rememorados e renascerão numa forma renovada (num contexto novo). Não há nada morto de maneira absoluta. Todo sentido festejará um dia seu renascimento. O problema da grande temporalidade.
(Mikhail Bakhtin)

Em 2012, o NIMESC acompanhou o trabalho do MUF, registrando em fotos e vídeos todo o processo de seleção das mulheres guerreiras. Neste momento, a intenção era conhecer os modos de registro das histórias de vida desenvolvidos pelos pesquisadores de memória do Museu de Favela. A partir desta troca de experiências entre os pesquisadores do MUF e do NIMESC, em 2013, surgiu a proposta de se desenvolver um curso de formação para sensibilizar a escuta de pessoas interessadas em ouvir histórias de vida. Ou seja, formar pessoas capazes de ouvir com atenção as memórias da favela, a partir dos relatos de seus moradores. A habilidade fundamental a ser desenvolvida ao longo desta formação é aprender a escutar, além de valorizar as histórias de vida de pessoas comuns. A sabedoria de quem escuta os acontecimentos da vida cotidiana é levar em conta a verdade de que todo e qualquer acontecimento, independente de ser grande ou pequeno, é igualmente importante para a criação de uma história coletiva. Nada deve ficar perdido para a história. Com base neste pensamento, criou-se o Núcleo de Formação de Escutadoras de Memória. O termo escutador veio desses encontros, e o utilizamos no feminino – escutadoras – porque, na ocasião, todas as participantes eram mulheres. Ao longo de seis meses, o Núcleo se reuniu quinzenalmente com um grupo formado por moradoras das favelas do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo, para criar estratégias de ação, referentes aos modos de escuta e de registro das histórias orais dos seus moradores.

Se existem narradores é porque há quem escute suas memórias. Narrar para não esquecer, ouvir para se encontrar com o outro e consigo mesmo. Qualquer história faz parte de uma rede ainda maior de narrativas que se cruzam no grande tempo.05 Nossa intenção é incentivar o diálogo entre as gerações, para criar as condições de transmissão da memória no futuro.06

06 “Aí eu pergunto. Será mesmo que conhecemos as pessoas?

O que é de fato conhecer alguém?
Até onde devemos ir na busca pelo registro de memória?
Como frear a curiosidade?
Que pergunta fazer e deixar brotar o desabafo, sentimentos e segredos que ao serem ditos trazem tanto alívio para quem os guarda?
Mas, e quanto a quem recebe?
Será que estava psicologicamente e emocionalmente preparada para receber estas confissões?
Que responsa do MUF e da PUC!
Que responsa das escutadoras!
Que responsa de quem responde!
Que responsa de quem pergunta!
Que responsa de quem não faz isso!
Que responsa de quem não investe em quem faz isso!
Que responsa se não multiplicarmos isso em outras comunidades!
Que responsa se não formarmos outras escutadoras!
Que responsa se não ouvirmos outros moradores!
Que responsa se não criarmos um manual sobre tudo isso!
Que responsa em querermos fazer tudo aquilo que não fazem!
Que responsa em querermos ser pioneiros em tudo!
Que responsa em termos a PUC e outras universidades como aliados!
Que responsa juntarmos tantos saberes!
Que responsa estarmos sempre indignados com a exclusão social!
Que responsa nossa, querermos mudar tudo isso, por uma causa tão sensacional!”

(Diretora social e curadora de memórias Rita de Cássia Santos)

2