Egressas da PUC-Rio, as editoras-executivas Rafaella Machado e Lívia Vianna trouxeram cases dos selos Galera Record e José Olympio
"Quando a gente fala de mercado editorial, a gente fala de um mercado muito tradicional, com obras de 50, 100 anos. E a gente vê que outros segmentos de mídia já se comunicavam diretamente com o jovem. Mas o mercado editorial só percebe o jovem nos anos 2000, com Harry Potter”, provocou a editora-executiva do Selo Galera Record, Rafaella Machado, na abertura da 1ª edição da ExpoLivro.
Dos anos 2000 para cá, acompanhada da ascensão dos celulares e das mídias digitais, a literatura jovem adulta (YA, young adults, na sigla em inglês) se consolida como um segmento dinâmico e lucrativo no mercado editorial. O termo YA é utilizado para classificar a ficção literária para o público entre 14 e 25 anos. No Brasil, o crescimento é impulsionado pelo surgimento de selos editoriais dedicados ao público juvenil, como o Galera Record, que completou 15 anos em 2023.
Pertencente ao Grupo Editorial Record, o Galera Record é pioneiro na publicação de livros para o público jovem adulto. “Um selo que é o primeiro livro na estante de muita gente”, diz Rafaella Machado, jornalista formada pela PUC-Rio, além de neta de Alfredo Machado, fundador da empresa.
Com lançamentos de autores populares e influentes entre os jovens, o Galera emplacou o livro É Assim que Começa, da autora americana Colleen Hoover, como o livro mais vendido da Amazon Brasil em 2023. O movimento da Record, que também publica autoras como Cassandra Claree Holly Black, abriu espaço para que outras editoras investissem na faixa etária.
Consumo imediato
As redes sociais, como YouTube, Instagram e TikTok, são fundamentais para formação e fortalecimento da comunidade literária jovem adulta. Perfis dedicados à literatura YA, por exemplo, são responsáveis por parte da divulgação e promoção de livros.
A partir das plataformas, as editoras descobrem dos próprios leitores quais temas e autores estão em alta. Rafaella Machado explicou como é o seu trabalho com o selo voltado para o público infanto-juvenil e ressaltou o engajamento com leitores e influenciadores para impulsionar os lançamentos. Segundo Rafaella, o público YA é mais ativo em comparação às gerações anteriores. Se antes era filtro de conteúdo a ser publicado, agora o editor também é ponte.
“A gente quer saber o que eles gostariam de ver nos próximos livros, quais autores vêm da internet, quais fanfics movem multidões, quais fandoms eles estão interessados, e isso faz com que a gente acabe acertando, porque a gente está ouvindo, escutando... É muito importante ter esse trabalho de troca”, explica.
A rapidez na publicação de novas obras também é tendência, porque os leitores jovens estão acostumados a consumir conteúdo de forma imediata, movimento favorecido pelos streamings de vídeo e música.
“A gente tem pouco tempo pra fazer o livro acontecer, porque o jovem, como todo mundo na sociedade, quer consumir o conteúdo no mesmo momento que o restante do mundo está consumindo”, diz Rafaella.
Reedição de Vidas Secas
A editora-executiva Lívia Vianna, contou ao público sobre o caso da reedição dos 80 anos do clássico Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Ela revelou aos presentes que em 1938 o próprio autor ao conferir a prova tipográfica enviada pela Editora José Olympio teria feito uma emenda que se tornou o título dessa que se constituiu uma das mais importantes obras da literatura brasileira.
Lívia Vianna apresentou o fac-símile dessa correção em que Graciliano Ramos risca a expressão “O mundo coberto de pennas” e dá vida a “Vidas Seccas”. Além dessa curiosidade literária, Lívia trouxe ainda o case de Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, e revelou detalhes da reativação do selo Rosa dos Tempos.
Assina este texto o aluno Danilo Akel, com a colaboração dos alunos Davi Goulart, João Marcello Santos e Bernardo Brigagão, da disciplina Laboratório de Jornalismo, supervisionada pela professora Luciana Brafman.
