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Assim como dona Natalina, dona Dercy nos conta um fato de sua vida, localizando sua história particular no contexto histórico da época. Nesse caso, citando o presidente que estava no poder na ocasião.

Marta (escutadora): Você lembra de alguma coisa boa que aconteceu aqui no morro quando a senhora era pequena?

Dercy: ...agora de infância, a minha infância melhor que eu tive, que eu estudei no Zé Linhares. Quando eu vinha da escola, encontrei uma assistente social aqui no morro, dando cartão de Natal pra receber presente no Maracanã. O presidente, na época, era o Getúlio Vargas, que, por sinal, fui eu e uma amiga sozinha pra lá. Com oito anos de idade. A minha mãe ficou louca. Mas, assim, eu recebi uma boneca, coisa que eu nunca tive na minha infância. Minha mãe teve cinco filhos, não podia comprar essas coisas. Primeiro gênero alimentício, depois as outras coisas lá. Aí, isso aí eu não esqueço, entendeu? É uma coisa boa que marcou da minha infância.

Comentário

É possível que fatos históricos tenham ocorrido ao longo de nossa própria história, mas nem sempre eles passaram a fazer parte de nossas memórias. Um acontecimento histórico apenas será considerado uma referência em minhas memórias se tiver sido intenso o suficiente para mim e se com ele eu tiver me identificado.

A prática da memória e a memória na prática

Atividade: linha do tempo

Objetivos: possibilitar que os participantes criem vínculos uns com os outros ao conhecerem e compartilharem suas histórias; fazer os participantes compreenderem como sua memória individual faz parte e constitui a memória social/coletiva.

Material necessário: fotos dos próprios participantes em épocas da vida distintas; fita adesiva; cartolinas; canetas coloridas.

Desenvolvimento:

  1. Os participantes são convidados a construir uma cronologia da sua própria história, selecionando os fatos mais relevantes;
  2. Para ajudar, você pode apresentar algumas questões:
    • Quais os acontecimentos mais importantes de sua vida?
    • Que pessoas são realmente significativas?
    • Que decisões e escolhas mudaram o rumo da sua história?;
  3. A cronologia da linha do tempo individual será representada numa cartolina. Para isso, os participantes poderão usar suas fotos ou mesmo produzir desenhos, fazendo anotações, por escrito, acerca dos fatos que dizem respeito às imagens. É importante lembrar que a linha do tempo individual deverá ser construída de forma cronológica;
  4. Após a construção das linhas individuais, os participantes são convidados a socializarem suas cronologias. As linhas do tempo individuais serão coladas no quadro, lado a lado. Em seguida, será o momento de todos contarem as suas histórias. Você irá estimulá-los a contar sua história de vida a partir da sua linha do tempo;
  5. Olhando para as linhas individuais, os participantes irão debater as seguintes questões:
    • Quais os pontos que se aproximam?
    • Quais os pontos que se distanciam?
  6. Em seguida, o grupo é estimulado a fazer uma linha do tempo coletiva. Para isso, deve escolher os fatos mais marcantes e que se repetiram nas linhas individuais. Os fatos escolhidos devem ser organizados cronologicamente numa só linha, podendo se utilizar, mais uma vez, fotos ou desenhos;
  7. A linha do tempo coletiva fica mais interessante quando fatos históricos são colocados entre os fatos da vida dos participantes, mas isso deve acontecer apenas se alguém trouxer espontaneamente essa informação. Você pode estimular os participantes nesse sentido. Assim, é possível estabelecer conexões entre o registro individual, o coletivo e o histórico.

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